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Diário da Pandemia – 25º dia de confinamento:

Abril 12, 2020
Dia calmo, muito tranquilo. Fiquei praticamente em casa o dia inteiro, revezando entre cozinha, sala e quarto. Às vezes, penso se viveremos “eternamente” assim, sem retorno às atividades profissionais e à chamada “vida normal”. Mas deve existir um bom horizonte além desse vírus que nos têm sufocado os intermináveis dias...
 
Gostaria, com a permissão de meus fiéis 70 leitores diários (uma média até aqui), de tratar hoje de um assunto que me desperta muita paixão, uma grande paixão. Daquela que brota do interior e se espalha pelo ar. Uma paixão que adquiri há muito tempo, mas que, por um bom período (cerca de uns três anos), ficou reprimida por forças do destino.
 
Já alerto que não se trata de uma paixão entre dois seres distintos, homem e mulher, mas sim ligada ao ofício que decidi seguir quando optei por cursar Letras e, portanto, “abraçar” a carreira do magistério.
 
Essa paixão voltou a aflorar quando, na semana passada, meu amigo de longa data, Dirceu, disse que havia sugerido meu nome, a uma colega sua de trabalho, para que eu revisasse um capítulo de livro. Fiquei muito contente, não pelo ganho da atividade, mas por “desenferrujar” uma habilidade que, modéstia à parte, “corre no meu sangue”.
 
Trabalho contratado, iniciei a revisão com muito gosto e prazer. Como de praxe, fiz uma primeira leitura, já fazendo correções, e, depois, uma segunda, derradeira, para ajustes finais. Repito: revisar me proporciona muito prazer – intelectual, é claro.
 
Sabem por quê? Porque, nesse momento, sinto-me como um marceneiro finalizando um belo móvel, ou um ourives dedicando-se a uma gema preciosa. Acredito que é um dos meus ofícios – além do principal, de ser professor – que muito me realiza. Inclusive, contabilizo que, num passar de três décadas, devo ter revisado centenas de trabalhos (talvez quase milhar), incluindo livros, dissertações de Mestrado, teses de Doutorado e artigos diversos.
 
Pois bem, depois que mudei meu rumo profissional (em 2017), os trabalhos nessa seara escassearam. Antigos clientes fiéis sumiram como que por mágica, e fiz poucas revisões (duas ou três) nesse longo período de três anos.
 
Acredito que, se morasse em uma metrópole, poderia até sobreviver com esse mister. Mas aí já dependeria de muitas ações vinculadas que a preguiça (e a altura dos anos) não me permitem tomar.
 
Vamos para mais uma sugestão “nacional” de leitura: “O guarani” (José de Alencar), a pedido da prima Anaí. Sem mentir, devo ter lido essa obra-prima pelo menos umas sete vezes.
 
Alencar é primoroso numa cena crucial (e só essa parte vale a leitura da obra toda) do romance velado entre um índio da tribo Guarani (Peri) e sua amada portuguesa (Ceci): o encontro de Peri com uma onça na floresta e o embate psicológico entre os dois. Essa descrição tem umas 20 páginas verdadeiramente apaixonantes!
 
Por hoje, é isso! Ah, em tempo: Feliz Páscoa a todos e uma boa noite!
 

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