Textos para diversão e reflexão! Blog em que você vai acompanhar a minha rotina desde o início da quarentena da pandemia do Coronavírus (Covid 19).
O pé de vento sinistro (conto)
Era o ano de 1945. Eu tinha oito anos, morava em Caxias do Sul (RS) e fazia pouco tempo que havia perdido a minha mãe.
Ao todo, éramos sete irmãos, todos morando com o pai num lugar em que ocorria muito pé de vento, que não surgia com temporal, nem nada. Só uma nuvem escura e pronto: lá vinha o pé de vento, assustando os animais e as pessoas. Nós, no pátio brincando, procurávamos logo alguma coisa para se segurar ou, então, deitávamos no chão, esperando que passasse.
Um dia, durante um desses pés de vento, quando ergui a cabeça, “gelei” – nem sei como não morri: o Davino, meu irmãozinho de quatro anos, estava “voando” por cima das árvores! Ele era bem magrinho... Eu entrei em transe, não falava nem chorava. Meu pobre irmão, que eu considerava que a mãe tinha deixado ele pra eu terminar de criar!
Com isso, chamaram os vizinhos, pois o pai estava trabalhando no Eberle. As mulheres, por sua vez, davam-me banho quente, para ver se eu parava de bater os dentes.
De repente, olhando na direção em que ele desapareceu, vinham vindo umas meninas da minha madrinha: a Antonia Baraseti, a Ires e a Zélia (a bem menor). No meio, vinha ele, vestindo uma camisa bem grande e azul. Como um sopro, me passou todo o tremor e a bateção de dente. “Pronto!” – pensei – “Ele morreu!”
Um anjo! Os antigos diziam que os anjos de menina eram cor de rosa, e os dos meninos, azuis. E, como ele vestia azul, pensei que havia virado anjo! Logo, com todos falando e ninguém entendendo, contaram que acharam ele perto de casa...
Foi muito assustador! Eu vivi isso e até hoje não consigo esquecer – tanto que fiquei tão possessiva com ele até virar chata.
* texto de autoria de Antonietta Caregnato Longhi, aposentada e moradora de São Miguel do Oeste (SC)
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