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De entregador de jornais a autor de artigos científicos (relato de experiência vivida)

Abril 18, 2021

Desde bem pequeno, eu tinha o sonho de ser professor. Queria muito ser matemático, pois adorava fazer contas. Assim, na escola, fui um estudante muito aplicado e determinado. Ao iniciar o ensino médio, em 2002, já entendia que teria de acumular dinheiro para dar continuidade aos estudos em uma universidade – sou de família simples e humilde e, então, trabalhei desde muito cedo para ganhar o dinheiro que precisava. Naquele momento, além de ganhar dinheiro, deveria poupá-lo e, por isso, abri minha primeira poupança, aos 16 anos.

Para ter uma remuneração maior e frequente, aceitei, em 2003, o trabalho de entregador de jornais em Maravilha (SC). Iniciei como entregador do jornal Novoeste. Logo em seguida, aceitei entregar, ao mesmo tempo, o jornal A Notícia (de Joinville) e o Diário do Iguaçu (de Chapecó). Com isso, recebia a remuneração de três empresas e a poupava. Entreguei os jornais até agosto de 2004, quando tive um problema sério de saúde: eu havia perdido a função renal.

Em virtude disso, iniciei, imediatamente, o tratamento de hemodiálise, três vezes por semana, na Clínica Renal de Chapecó (a 85 km de Maravilha). O vestibular estava próximo, e o problema de saúde distanciava meu sonho de ser matemático. Tive de mudar de opção: da Matemática para a Engenharia de Alimentos, na Udesc (de Pinhalzinho), pois era um curso noturno, no caminho entre a minha casa e o tratamento. Então, intercalava os estudos universitários com a hemodiálise, até 2007, quando minha mãe Zélia, em um ato de heroísmo, doou um de seus rins para mim, o que me livrou da hemodiálise.

Ao finalizar a graduação, em 2009, surgiram duas possibilidades: ser contratado como engenheiro por uma indústria ou seguir com os estudos de mestrado. Escolhi o mestrado, para retomar o sonho de ser professor. Nele, as pesquisas científicas realizadas levaram a outra atividade que aprendi a amar: ser escritor. A escrita científica, afinal, é fundamental para a divulgação das pesquisas e, portanto, para a evolução da ciência.

Após finalizar o mestrado, em 2012, já ingressei no doutorado. Assim, o meu sonho de ser professor estava ainda mais próximo, e ele se concretizou em 2014, quando fui aprovado no concurso para professor da UFPR. E finalizei o doutorado em 2016. Hoje, sou professor do curso de Engenharia de Alimentos e pesquisador da área de Microbiologia Preditiva. Até o momento, publiquei mais de 20 artigos científicos em periódicos (jornais científicos) renomados, de abrangência internacional, bem como tenho atuado como revisor de artigos científicos de outros autores.

E sei que tenho, ainda pela frente, uma longa estrada, com meu sonho tendo iniciado ainda quando eu era um modesto entregador de jornais!

* texto de autoria de Daniel Angelo Longhi, professor universitário na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e que reside em Jandaia do Sul (PR)

Comentários  

+1 #2 Jairo Miguel da Silv 21-04-2021 20:05
Professor Daniel!
A vossa pessoa é um dos colegas que são exemplos de superação, luz divina e de vida para muitos.
Deus o abençoe hoje e sempre amigo.
Respeitosamente,
Jairo Miguel.
Jornal Novoeste - Maravilha/SC
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+1 #1 Carlos Germano 21-04-2021 11:10
Se o SER HUMANO tivesse a percepção de observar e colocar em prática o que ocorre de EXCELENTES EXEMPLOS ao seu redor, indubitavelmente, o MUNDO teria outra configuração.
Cumprimentos, caro Ulisses, pela VEIA 'POÉTICA' CIENTÍFICA do seu Sobrinho!
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