Sou professora há 29 anos. Meu início de carreira foi em uma escola multisseriada, com quatro turmas, em um total de 32 alunos. Sendo docente “de primeira viagem”, eu assumi a obrigação de realizar, fazendo acontecer as expectativas de toda a comunidade escolar. Assim, muita dedicação e grande pureza sempre me guiaram para contribuir e realizar, da melhor forma, aquilo que esperavam pais e alunos da humilde escola do interior.

Em 2002, contudo, a escola multisseriada foi nucleada. Os alunos e a professora deixaram, então, a escola aberta (de pátios enormes), indo para a cidade, estudar em escolas cercadas por muros. Quanta ironia!

Porém, com o passar do tempo, tanto os alunos quanto a professora se adaptaram a essa nova realidade, até como forma de homenagem à saudosa escola multisseriada. Confesso que o tempo passou, deixando apenas os momentos da mais pura e verdadeira alegria, das conquistas, das revelações e das mudanças.

Sei – e talvez só eu e alguns saibam – que enfrentei muitos obstáculos, tropeços e angústias, mas me tornei uma profissional com garra e muita sede de buscar formação e concluir um projeto de vida. Afinal, nada é mais gratificante do que transmitir a outras pessoas tudo o que você aprendeu e vem aprendendo, pois isso me faz ser uma pessoa útil. Observar que as crianças e jovens respondem positivamente aos seus ensinamentos não tem preço; é impagável.

Amo o que faço e amo as pessoas para quais faço isso. Às vezes, até paro e penso se eu serei lembrada pela sociedade como uma heroína – por me dedicar e amar tudo isso – ou como apenas mais uma professora...

* texto de autoria de Ives Zandonai, professora que reside em Seara (SC)