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Tragédia na BR 282 (crônica)
Era nove de outubro de 2007. Por volta das 19h30min, as guarnições da Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal, Bombeiros Militares e Bombeiros Voluntários, ambulâncias de prefeituras e guinchos foram acionados para atender ao acidente ocorrido na BR 282, KM 630,1, na divisa entre Descanso e São Miguel do Oeste, envolvendo uma carreta de Frederico Westphalen (RS) – na qual condutor, esposa e dois filhos menores faleceram – e um ônibus de São José do Cedro (SC), lotado de agricultores e funcionários de uma cooperativa, que voltavam de um show do cantor Daniel em Chapecó. Resultado: 11 pessoas morreram e muitas outras ficaram feridas.
Fila enorme de veículos parados, notícias “corriam” nos meios de comunicação locais. Isso chamou a atenção de muitos curiosos. A imprensa estava no local, fazendo a cobertura (fotos e gravações que nunca puderam ser divulgadas, pois foi tudo “triturado” – tanto repórteres quanto máquinas e filmadoras, que foram literalmente esmagados). As pessoas paravam na fila, uns ajudando, outros nem tinham como ajudar; na verdade, uns até atrapalhavam, mas estavam lá, chocados com a brutalidade do primeiro acidente que causou um grande congestionamento.
Bombeiros e policiais de folga se deslocaram para ajudar. Isso ia aumentando o número de pessoas, e quando já havia mais ou menos umas 200 no local – cerca de duas horas e meia depois –, um caminhão de Cascavel, carregado com 30 toneladas de açúcar, apareceu avançando na contramão, sem freios, passando por cima de tudo e de todos...
Um estrondo enorme, seguido de um silêncio estranho. Escuridão desesperadora. Alguns gemidos começaram a ser ouvidos, gritos, pedidos de socorro... Aos poucos, ia sendo retomado o socorro: quem estava menos quebrado ajudava os outros, e assim foi indo. Desespero total!
“Meu Deus, uma tragédia... Meu Deus...” Deus, onde você estava? O repórter que sobrevivera, ao vivo, divulgando, na Rádio Peperi, que uma carreta veio e atropelou todo mundo: “Pode haver dezenas de mortes, pois passou por cima de tudo!” Resultado: mais 16 mortes e dezenas de feridos.
Policiais e bombeiros iam chegando voluntariamente nos quartéis, deslocando-se para o local do terror. Cenas de guerra: corpos destroçados, colegas irreconhecíveis... No fim da noite e no início do dia seguinte, ninguém sentia mais nada; na verdade, todos os sentimentos eram em vão. As perguntas não tinham resposta; as respostas eram vagas, não faziam diferença nenhuma... Choro, lamento, sentimento de impotência, culpa; não havia mais nada para fazer além de orar.
No dia seguinte, a igreja estava cheia de caixões: policial, bombeiro, bombeiro voluntário, amigos e conhecidos... Estávamos enterrando 27 pessoas, nas cidades de São Miguel do Oeste, Guaraciaba, Maravilha, Romelândia, São José do Cedro e outros aos arredores.
Somos todos trabalhadores, defendemos a sociedade, queremos e lutamos por tudo. E assim vemos, em cada irmão de farda, um defensor da sociedade. Assim, somos todos os policiais e bombeiros de Santa Catarina!
* texto de autoria de Elton Biegelmeier, policial militar aposentado do Estado de Santa Catarina